Mulher negra de origem humilde, nascida na cidade de Buritizal, interior de São Paulo, Dirce Maria Lazara, passou a infância e adolescência em Guaíra-SP, onde, até os 15 anos, ajudava seus pais com a lida na roça. Os dias difíceis de trabalho pesado e dificuldades econômicas não impediram que Dirce sonhasse e corresse atrás de uma vida melhor.

Ao terminar o ensino colegial mudou-se para Ribeirão Preto-SP, onde prestou concurso para trabalhar como atendente de enfermagem no hospital da Universidade de São Paulo (USP). Foi lá que Dirce teve certeza de sua vocação e iniciou sua trajetória na enfermagem.

Incentivada pelos colegas de trabalho, se inscreveu para concorrer a uma vaga na Universidade Federal de Alfenas, em Minas Gerais, sendo aprovada em segundo lugar para o curso de enfermagem. Concluiu a graduação em 1979 e de lá para cá, Dirce dedicou sua vida a profissão e ao cuidado com o próximo.

Sua trajetória no Hospital de Clínicas da UFTM teve início nos primeiros anos da década de 80, quando foi aprovada no concurso da então Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM), se tornando uma das primeiras enfermeiras com formação superior trabalhando no hospital e a única com graduação a trabalhar no bloco cirúrgico.

Segundo ela mesma conta, os primeiros anos foram de grandes desafios. “Eu sentia que nessa época as pessoas não estavam acostumadas com uma enfermeira graduada e percebi que eu precisava ser mais enérgica, foi difícil, mas aguentei firme e forte”, lembrou Dirce.

Vencidos os obstáculos dos primeiros anos de profissão, dona Dirce fez do ambiente de trabalho um espaço de realização e felicidade. “Eu trabalho sempre com muita alegria. Me arrumo para vir para o hospital como se estivesse indo para uma festa, porque para mim é isso, um momento de felicidade”, contou com satisfação.

Os colegas de trabalho, alguns que a conhecem a mais de trinta anos, a descrevem como uma líder enérgica porém, afetuosa, características que fizeram com que Dona Dirce, como é respeitosamente chamada, conquistasse o carinho e amizade de cada um que a conheceu ao longo desses anos.

“Ela foi uma grande professora para mim, tudo que sei hoje de bloco cirúrgico, de liderança, foi com a dona Dirce que aprendi”, declarou a enfermeira, Viviane Salgado, resumindo o que profissionais de áreas distintas, que trabalharam com dona Dirce nesses anos, também relatam sobre ela.

Famosa por suas expressões irreverentes como: “mexe o doce galera, vamos trabalhar”; “não me acompanhe que eu não sou novela”; “sou pretinha, mas não sou Nossa Senhora Aparecida, não faço milagre”. Dona Dirce se dedicava a manter a organização do bloco cirúrgico, sem esquecer do lado humano de cada profissional.

Exemplo para as gerações mais jovens a enfermeira, Dirce Maria Lazara ajudou a escrever a história do Hospital de Clínicas. “Ela representa o que há de melhor no HC-UFTM, as pessoas. A sua dedicação ao bem coletivo é um legado que temos a honra de receber, com a gratidão por ter nos brindado com o seu precioso tempo de vida digna, ao longo de todos esses anos”, salientou a superintendente, Luciana de Almeida Silva Teixeira.

Com 74 anos, Dirce dedicou mais da metade de sua vida à enfermagem e ao Hospital de Clínicas da UFTM. Agora, completados 42 anos de trabalho, se despede com toda honra e homenagens. É momento de iniciar uma nova jornada, momento de valer-se de merecido descanso e boa saúde para aproveitar sua outra paixão, viajar.

Reconhecimento

Por sua dedicação e amor à enfermagem dona Dirce foi homenageada com o Prêmio Florence Nightingale, maior honraria do Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (Coren-MG) às enfermeiras de destaque. O prêmio foi entregue em cerimônia realizada em Uberlândia, no dia 12 de abril de 2024.

Outra importante homenagem recebida em 2024 foi o título de Cidania Honorária de Uberaba, concedido por indicação do vereador Túlio Micheli como forma de reconhecimento pelos anos de dedicação ao serviço de saúde na cidade, através de seu trabalho no HC-UFTM e no Santório Espirita de Uberaba.

Homenagem do HC-UFTM pelos seus 42 anos de dedicação, organizada por seus colegas de trabalho com apoio da gestão do hospital.